terça-feira, 16 de abril de 2013

Dedé, eterno do lado esquerdo do peito



O carisma de Dedé é incalculável. Sábado passado, por exemplo: Vasco e Quissamã, em São Januário; ambos eliminados do Estadual; tarde modorrenta no Rio; frio; pelada tosca; e Dedé, idolatrado pelos vascaínos, em campo; sua iminente saída já era especulada, àquela altura; clima de despedida; cruzamento de um pobre diabo, no que Dedé pula, cabeceia e, tá lá, gol do Vasco; gol do Mito.

Pelo Twitter, que serve, ao menos pra mim, de pauta sobre o que pensam bons vascaínos, o clima era de melancolia. "Chorando muito" na timeline, geralmente, é sinônimo de deboche. Mas, naquela tarde nebulosa, os cruzmaltinos não estavam debochando. Centenas deles se emocionaram, incluindo este pobre escriba. (Escriba? Risos). Dedé correu pra torcida, beijou a Cruz de Malta, mostrou seu amor pelo clube, mais uma vez. Amor legítimo, ninguém duvida. Foi seu último gol pelo Gigante da Colina, provavelmente.

Descemos das nuvens. A realidade do Vasco da Gama, hoje, é triste. Um técnico de ponta, lúcido e ponto fora da curva no que diz respeito a treinadores, mas com um elenco ruim, de baixas expectativas, em mãos. Dívidas. Poucos investidores. Ou seja, a necessidade de se fazer caixa urge. E Dedé é o único por lá atualmente que pode gerar retorno financeiro ao clube. Tudo se baseia exclusivamente nisto. Vender parece a única solução. Ou a solução mais fácil para uma diretoria pouco criativa.

Muito se falou em Dedé no Corinthians. Pelo que se leu, a mídia tinha mais interesse em ver o jogador no Parque São Jorge do que o próprio clube paulista. O atleta, no entanto, no intervalo do jogo de sábado, admitiu sondagem do Cruzeiro. Fez o que poucos boleiros fazem: confessou ter recebido proposta, se mostrou confuso se iria ou não, mas foi sincero, franco. Admirável, no mundo cretino do futebol.

A venda de Dedé vai resolver todos os problemas do Vasco? Evidente que não. Mas penso que se faz necessária. Ele é um ótimo zagueiro, muito acima da média dos que por aqui habitam, mas, sejamos realistas, há muito não joga em alto nível. Porque o time não ajuda, talvez? Pode ser. E qual a perspectiva de que haja um time competitivo para ajudá-lo a crescer, tecnicamente? Zero. A menos, talvez, que uma grana pingue na conta do clube. E, no cenário atual, só deve pingar através da venda dele. 

Infelizmente, como já escrevi, não se pode esperar criatividade dos que comandam o Vasco para reforçar o elenco. Em termos de vitrine, Dedé dá um passo atrás. Um passo atrás para, de repente, dar dois para a frente. Vai depender dele também. Adaptação, entrosamento, etc. O Cruzeiro não tem a mesma visibilidade do Vasco. Entretanto, existem bons nomes por lá. Há um time em formação. Se vai dar caldo, não sei e pouco acompanho do futebol mineiro para cravar qualquer coisa. Seria leviano. O futuro é tão incerto para Dedé quanto para o Vasco, a meu ver.

E, na boa, 14 milhões de reais por um zagueiro, mais uns refugos que devem mandar, tendo o salário bancado pelo clube celeste, não tá ruim. Ruim é perder um ídolo, em qualquer circunstância que seja. Pior se for para um clube do mesmo país. Um rival, na verdade, ainda que não seja direto. Mas, na minha visão, tá bem razoável, pelo valor e também pelos que chegarão. São jogadores medianos? Bom, não são pilares da técnica mas, diante do que temos, podem acrescentar de alguma forma. 

Por fim, gostaria de agradecer ao Dedé por sempre ter honrado a camisa que vestiu. Por ter sido digno, leal, carismático, simpático. Não é todo dia que se cria uma identificação por um jogador que sequer saiu da base do Vasco - começou em Xerém, vale lembrar. Espero que ele tenha êxito no Cruzeiro e que siga sendo convocado para a Seleção Brasileira. E que, também, cresça ainda mais, como profissional e pessoa. Valeu, Mito! Obrigado! E volte, quando quiser. Choremos.


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O dia que conheci o Theatro Municipal do Rio de Janeiro



Ontem, por volta de 19h, saí de casa para ir ao Rio. Já no ônibus, olhei as sessões nos cinemas da Zona Sul. Nenhum horário para um filme.

Li no Rio Show que teria Gonzaga no Odeon às 21h. Desci às 20h na Cinelândia disposto a fazer hora, mas vi que o cinema estava prestes a fechar.

Não entendi bem por que cargas d'água o Odeon estava fechando tão cedo, mas nem procurei saber. Fui andando a esmo pela Praça Floriano.

Chegando na esquina com a 13 de Maio, notei o mar de gente que se aglomerava às portas do Theato Municipal.

Sentei num banquinho que por ali existe e, com certo temor de ser assaltado, peguei o celular para fazer uma foto daquele belíssimo teatro iluminado.

Fiz a foto, publiquei no Instagram e pensei, ao ouvir um cambista anunciando o valor do ingresso do espetáculo: por que não entrar?

Já que eu nunca tinha entrado no Theatro Municipal, o fato de estar de bermuda não me desanimou.

Então, subi aquela pequena escadaria, não como pagador de qualquer promessa, mas como curioso, mesmo. E me dirigi a dois caras de terno.

Perguntei a um deles onde ficava a bilheteria. Ele me disse que à minha esquerda, mas, por conta própria, me advertiu: de bermuda não pode.

Aí pensei: pena, dei mesmo viagem perdida. Mas fiquei por ali, mãos dentro do bolso, pessoal entrando, mar de gente diminuindo, e eu me destacando de verde.

E os cambistas anunciavam em bom tom o preço e setor dos ingressos que dispunham. Um deles, ao me ver com cara de fuinha, se aproximou.

Me ofereceu um ingresso por R$50. Setor: frisas. Dizia ele que a visão era privilegiada, mas eu realmente não fazia idéia do posicionamento.

Eu disse que não compraria por estar de bermuda, no que o cambista, sem pestanejar, anunciou, empolgado: EU TE ARRUMO UMA CALÇA.

Gargalhei, totalmente ruborizado. Ele falava sério, bem sério. Espetáculo já começara e ele, óbvio, não queria morrer com o ingresso na mão.

Fiquei em cima do muro. Como assim o cambista me empresta uma calça? Que calça, cara?, perguntei. Te arrumo, pô, te arrumo, repetiu.

Ele pediu adiantamento de R$10. Peguei a carteira, incrédulo com o que acabara de fechar. Entreguei os R$10 e, juro, pensei nos meus netos.

Ele pegou o dinheiro e, já correndo, pediu que eu o aguardasse. Porra, onde mais eu iria? Avistei-o falando com um cara, que puxou SEI LÁ DE ONDE uma calça.

Em menos de um minuto ele voltou com uma calça bege clara. As portas da frente do teatro já estavam fechadas e comecei a temer pela minha entrada.

E perguntei por onde entraria. Pela lateral, disse ele. Peguei a calça, fui num cantinho e, sem olhar ao redor, vesti por cima da bermuda.

Eu estava rindo pra caralho. Não podia acreditar no que estava fazendo. Mas foda-se, pensei. Tudo no improviso é mais gostoso. Bem mais!

Já com a indumentária nova, espiei rapidamente se a calça estava suja. Não estava. Ficou justa na cintura, mas parecia UM BALÃO nas minhas canelas.

Com certeza eu repararia em alguém com um calça tão larga. Tímido, temi pela minha reputação. Que vão pensar? Ah, foda-se, é escuro lá dentro, minimizei. 

Fomos até a entrada lateral do teatro. Olhei o ingresso com atenção. Mas como ter atenção numa hora dessas, de tanta correria e improviso?

No fundo eu estava excitado. Que puta espírito aventureiro, pensava. Mas o ingresso indicava "estudante". E se me pedirem carteirinha?

Pedi que o cambista me aguardasse. Entrei no teatro, finalmente. Dei o ingresso ao rapaz e, leigo, perguntei: pode entrar ainda? O cara sinalizou que sim.

Já "garantido", falei já volto e saí para pagar o restante ao cambista. Peguei duas notas de R$20 e lhe entreguei. Com os R$10 de antes, R$50, como havíamos 

tratado.

Mas eu tinha duas notas de R$50 na carteira, além das duas de R$20. Como estava trêmulo, permiti que ele visse. Então ele cresceu o olho e pediu uma delas, 

que, somada aos R$10, totalizava R$60. 

Então eu chorei: tratamos por R$50. Ele: fecha R$60, cara, o setor é nobre. Mas você disse R$50, insisti. Mas ele me persuadiu.

Pediu, então, que eu lhe desse R$50 e que ele me voltaria R$30. Nervoso, me enrolei. Dei a nota de R$50 e ele me voltou R$30, mas: e as duas de R$20 que eu 

já tinha dado, mais a de R$10? O ingresso acabou saindo por R$70. Só fui perceber isso HOJE!

Ele me enrolou, óbvio. Rato de rua. E, mesmo sendo comerciante e lidando com dinheiro e negociação diariamente, fui envolvido.

Não considero prejuízo porque adorei o espetáculo. E só notei que era ballet quando, lá dentro, sentado, acendi a lanterna do celular sobre o ingresso.

Antes de entrar no teatro, perguntei ao cambista o que faria com a calça. Deixa com o pipoqueiro, ele gritou, já distante.

Por SMS, contei tudo pra Tatá. Ela ria muito. E, enquanto isso, o espetáculo rolava e um cheiro ruim exalava. Era da calca. Ou o cecê do sujeito a minha 

frente?

Eu ralava a mão pela calça e cheirava. Cheiro esquisito que, quando confrontado com o do cecê do careca da frente, ficava pior.

Digamos que o cheiro que exalava era misturado. Calça + sovaco de cebola do careca = odor que, aparentemente, só eu senti, porque ninguém ao meu redor 

parecia incomodado.

O espetáculo? O Quebra Nozes. Monótono no início, adorável da metade pro final. Aplaudi ao fim e, antes que todos saíssem, tomei a frente.

Pensei em tirar a calça no banheiro do teatro, mas acabei saindo vestido. Fui ao banheiro do Amarelinho (bar/restaurante conhecidíssimo no Rio) poucos metros 

adiante, tirei e dobrei.

Voltei à porta do teatro, caminhei até o pipoqueiro e expliquei que um rapaz pegaria a calça com ele, sem dizer quando, até porque eu não sabia. Acho que ele 

não entendeu absolutamente NADA do que eu disse, mas acenou positivamente com a cabeça.

Então, pus a calça em cima da barraquinha de pipoca e fui embora, rindo e pensando na divertidíssima noite que acabara de ter.


domingo, 18 de março de 2012

Eu, tu, nós


Não gosto quando você chora porque sou sensível demais pra não chorar junto. Detesto quando você chora de soluçar porque aí tenho que esconder meu rosto embaixo do travesseiro pra amenizar o drama que, se te acomete, acomete-me também. Odeio quando não posso te ajudar. Dói o fato de não ter o poder de trazer seus entes pra perto só pra te ver mais feliz, realizada, completa. Choro porque você chora. Choro pela impotência de não poder te satisfazer. Choro porque, às vezes, não há nada que eu possa fazer.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Incoerência


Recentemente, numa missa em Niterói, o padre, preciso e objetivo, foi brilhante quando comentou que a sociedade precisa ter coerência. Ele desenvolveu seu raciocínio, deu exemplos, mas a frase me chamou muita atenção - para a coerência alheia e, especialmente, a minha.

Coerência. O ser humano costuma ser coerente? Nem o padre deve tê-la em totalidade. Me parece periclitante viver sem dar tiro no pé, ser o tempo todo regrado e jamais ir contra seu pensamento de outrora. Em alguns casos, ou na maioria, é muito divertido constatar a incoerência de terceiros - a sua, se não for muito grave, permita que os outros te alertem, dê risada dela, mas procure corrigí-la.

Estou falando isso porque as redes sociais, embora cansem em alguns momentos, divertem bastante em outros tantos com a (in)coerência das pessoas.

No Twitter, onde não conheço a maioria dos seguidores, é difícil, mas no Facebook vejo o tempo todo pessoas, inclusive eu, sendo incoerentes.

Exemplos básicos sobre o tema envolvendo BBB (o reality show rende mil assuntos e estou me aproveitando deles para não cair no ostracismo, como já se nota):

A pessoa diz não ver BBB mas critica os participantes;

Cita que não pode ouvir falar de BBB por sentir nojo mas escreve o nome do programa em suas constantes reclamações;


Declara que BBB não tem cultura, mas não perde um programa do Pânico na TV;


Afirma que vai bloquear quem muito comenta de BBB mas compartilha o tempo inteiro as bestialidades do melhor melhor do mundo;


Fala que quem vê BBB é desocupado mas fica o dia inteiro no bate-papo do Face;


Grita que BBB não oferece cultura mas jamais leu um livro;


Divulga passagens da bíblia, fala do amor de Deus, mas vocifera com ódio sobre BBB.


Pois é, você já deve ter lido algo semelhante aos exemplos na sua timeline. Cadê a coerência das frases, das pessoas? 

O ser humano, como sabiamente disse o padre, é incoerente. E, se você não crê em Deus e, por tal descrença, não segue seus mandamentos, por favor, ao menos decore a observação do padre e tente usá-la na sua vida.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sobre quem vê (ou não) BBB


A galera que se aventura pelos principais portais do país já sabe, aqueles que acompanham estes mesmos portais pelas redes sociais, idem. Mas, caso você realmente não esteja sabendo - acho improvável -, aviso, com exclusividade (na era das mídias sociais TODO MUNDO dá notícia exclusiva, revela estudo), que amanhã, terça-feira, 10/01/2012, vai começar mais um BBB. Um evento e tanto.

É deboche da minha parte tachar o BBB de um evento e tanto? Sim, mas não tem como não qualificá-lo assim, e, visto que são doze edições, minha ironia cai por terra. Doze edições, gente! Se o conteúdo ou falta de é útil ou não, é discutível. Mas, inegavelmente, tem público, tem audiência, tem patrocinadores, dá ibope. Nada na televisão se sustenta sem eles, óbvio.

Então, o reality brasileiro de maior sucesso vai ao ar amanhã à noite pela Globo, mas o debate sobre o programa, seus participantes e, principalmente, quem gosta de assistir, já começou há uma semana em diversos lugares e espaços. A velha ladainha de que BBB é coisa pra gente vazia vem a tona e eu, que já entoei este coro, hoje tenho outra opinião. Não que eu vá acompanhar e, por isso, defender uma idéia por mim, seria egocentrismo em excesso e não sei se já cheguei neste ponto - talvez tenha passado (RISOS?). Na verdade, não sei, talvez eu veja, ou não. Pouco importa. O que quero dizer é: o intelecto de ninguém deve ser medido pelo que o sujeito vê ou não.

Por que a pessoa que acompanha BBB e enche as redes sociais de opiniões sobre o reality é burra, ociosa, estúpida e sem cultura? (Tá, ela pode ser chata, mas isso foge do tema). Quem não vê, automaticamente, é gênio, cultão, fodão, superior, a mente do saber? Conheço um sem número de pessoas que não tem merda nenhuma na cabeça e sempre assiste. Ao mesmo tempo (embora não proporcionalmente), conheço pessoas inteligentes, viajadas, apreciadoras de livros, cinema, mente aberta e tal que gostam de ver, pagam pay per view e tudo. E daí? O cara, necessariamente, tem que ser burro por acompanhar um reality show e/ou inteligente por ler livros? Não é muita pretensão raciocinar assim?

Não quero levantar bandeira do BBB. Longe de mim querer persuadir alguém a ver o programa, sei lá se vale a pena ou não, cabe a cada um julgar com base na própria vivência. Mas acho escroto e idiota definir alguém de qualquer coisa simplesmente por ver ou não o programa.

Ultimamente tenho pensado da seguinte maneira sobre um amontoado de coisas: se acho que vale a pena, vejo, leio, me desloco, me esforço; se acho que não, não vejo, não leio, não me desloco, não me esforço. A gente (me incluo) tem que parar com a mania de querer dar opinião sobre tudo, de querer direcionar o que um ou outro vai ver, fazer ou não. Se você gosta, ótimo, beleza. Do contrário, ignore, limite-se a dizer que não curte, que não acompanha. Não precisa ter motivo e opinião sobre tudo, muito menos sobre BBB (deixei parecer meu desprezo?).

Ps: a foto, tirada por mim na Praia Vermelha, dia desses, é pra dar um tom suave ao texto.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um Dia, o livro do ano!

Um Dia, de David Nicholls. Faz mais de um mês que terminei de lê-lo. E daí? O livro perdura no meu consciente. 

Por vezes, em diversas situações do cotidiano, no amor e no ódio, meu ou alheio, me vem à tona alguma lembrança de Emma e Dexter, os protagonistas deste inesquecível (!) romance. 

Emma e Dexter. Dexter e Emma. Em e Dex. Grave estes nomes, como se possível fosse esquecê-los. 

Love story passada em Londres, de 88 até 2007, sempre na mesma data: 15 de julho. 

Quem viveu aquela época talvez fique nostálgico. Quem, como eu, estava nascendo, vai se apegar a outros fatores. 

Pouco importa sua idade, sua crença, ou o tamanho da sua fé: Um Dia vai mexer com você! 

Se quiser, por antecipação, se sentir intimidado, tudo bem. Porque, cedo ou tarde, tão logo no início, na metade ou a caminho do fim, Um Dia vai te cercar e, com naturalidade incomum, te apunhalar. Por trás, pela frente, no peito e, constantemente, no coração. Faz rir, gargalhar, pensar, refletir; chorar, lamentar, sonhar, cair. 

Um Dia tem milhões de caras e, ao mesmo tempo, cara nenhuma. Tem a sua cara. Sim, Emma se parece com você. Dexter, idem. Aceite a identificação. Se surpreenda. Sinta-se ameaçado. Um Dia, mesmo que demore ou, simplesmente, apenas por um dia sequer, vai te tocar. Profundamente. Dolorosamente. Alegremente. 

Leia Um Dia. Logo! Não corra o risco de morrer com esta lacuna. Clamo pro seu bem. Pro seu próprio bem.

(Comentários adicionais sobre o livro que não consegui incluir no texto):

Talvez o sucesso de Um Dia se deva ao fato dele ser um livro de todos. Sabe aquele slogan "Brasil, um país de todos"? Pois é. A identicação com os protagonistas Emma e Dexter varia entre um e outro a medida que as páginas são viradas. Eu, como David Nicholls, o autor do romance, me vi mais em Emma. Romântica, sensível, insegura, excessivamente depreciativa;

Desconfio que Um dia, lançado em Londres há dois anos e, no Brasil, em maio deste ano, é sucesso exatamente por falar um pouco de cada um de nós. Emma e Dexter, os protagonistas desta ficção maquiada de história real, são vistos com nossas atitudes, nossas palavras, nossas frases, nossas angústias amorosas. São nossos clones. Nossa identidade foi roubada por eles e revelada, sem nossa permissão. O livro permite, sem sua autorização, que você se conheça - muito ou pouco. Compreende a profundidade?
 



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Meu pai fala cada merda

Acho que eu jamais compraria um livro cujo título é Meu pai fala cada merda, embora eu dê credibilidade a capas que contém informações como "1º lugar na lista de mais vendidos do NYT" - pois é, sou muito influenciado por etiquetas. Gosto de qualquer tipo de leitura, mas ainda sou conservador quando estou numa livraria, e não costumo botar fé em livros que se intitulam hilários. Questão de desconfiança. Não sei se vocês vão respeitar este meu jeito.

No entanto, ganhei este de aniversário e, quando alguém me presenteia com qualquer livro, me sinto na obrigação de lê-lo e comentá-lo como forma de agradecimento a pessoa que me deu - a propósito, preciso falar deste para minha tia.

Em Meu pai fala cada merda, Justin Halpern, um rapaz de 28 anos, resolve voltar a morar com seus pais, após ser chutado pela namorada. A partir deste momento ele começa a publicar no Twitter incontáveis frases de seu pai (e, com o sucesso delas na internet, que conquistou milhões de seguidores, virou livro e, posteriormente, seriado de tevê da Warner!!!!), Sam Halpern, um velho de 73 anos, rabugento e chato ou engraçado e sábio - depende da interpretação de cada um. Aparentemente as frases proferidas por Sam não tem caráter maldoso, mas, quem vive sob turbulências com seu pai dentro de casa, pode encarar as peripécias como ofensas.

Uma amiga, por exemplo, achou escroto à beça a forma com que Sam se refere a Justin (se fosse o Bieber, eu apoiaria). Sim, ela não se dá muito bem com seu pai e encarou a maioria das situações deste livro como estupidez. Não cabe julgá-la e, embora o livro sustente um ar despretensioso, pode desagradar algumas pessoas - minha mãe começou a ler, não viu graça e adjetivou Sam como um grosseirão idiota que maltrata o filho com palavras. Discordo totalmente e confesso que morri de rir com o jeito descolado do coroa e, por mais arrogante que o que ele diga possa soar, achei que, acima de tudo, ela ama seu filho.

Recomendo o livro como uma leitura não obrigatória, apenas pra distrair e dar boas gargalhadas.