sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Última Parada 174

Dirigido com louvor pelo diretor Bruno Barreto, o filme Última Parada 174 retrata, detalhadamente, a história de Sandro Barbosa do Nascimento, remanescente da Chacina da Candelária e, posteriormente, responsável pelo seqüestro do ônibus 174, em 2000, no Jardim Botânico, que culminou com a morte de uma refém.

Sandro, órfão logo aos seis anos, teve quase todos os pré-requisitos para se tornar um criminoso: morador de favela, pouca base familiar, desinteresse pelo estudo e desamparo. Desmotivado, fugiu da casa de sua tia – que o pegara para criar após sua perda -, em São Gonçalo, e resolveu ganhar a vida. Faminto, na primeira oportunidade que teve para se aventurar nas drogas, não hesitou. Mas, mesmo diante deste cenário sombrio, Sandro mostrava talento em compor versos rimados. Mas o fato de ser analfabeto impediu um possível progresso no ramo.

Sem nada a perder, Sandro foi empurrando a vida com a barriga e teve uma última oportunidade de sair da vida do crime. Quando foi noticiado que estava preso, uma mãe, que tivera seu filho roubado ainda recém-nascido, o confundiu e o abrigou. Mas o destino de Sandro, que parecia ser decido a medida que um copo de vidro era quebrado, parecia traçado. Até que, tomado por uma overdose, surtou, tomou um ônibus e... Quem conhece a história, sabe o final.

Última Parada 174
é excelente por mostrar os bastidores de um garoto desamparado e entregue à própria sorte. Qualquer menino de calçada, que presencio diariamente nas ruas do Centro do Rio de Janeiro, pode se tornar um Sandro a qualquer momento. À época do assalto ao ônibus, apedrejei, com palavras, Sandro, que, evidentemente, não pode ser inocentado pelo crime que cometeu. Mas, de todos, não é o maior culpado. O Estado, a meu ver, pode e deve amparar garotos de rua com mais intensidade. Apoio só de ONG’s é insuficiente – quem ver o filme, constatará. Acho que, existindo um planejamento social plausível, muitos meninos considerados incuráveis poderão dar a volta por cima. A solidariedade da população também é imprescindível. Do contrário, novos Sandros continuarão se desenvolvendo.

Um comentário:

  1. Acho que os representantes brasileiros estão mais interessados em ajudar o Haiti (não que eles não mereçam) do que nosso povo. Ainda não vi o filme. Talvez veja.

    Abraços !!!!!

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