terça-feira, 20 de outubro de 2009

Fatos do cotidiano

Acontece quase sempre, mas, desta vez, foi mais intenso e perturbador. Por isso, partilharei com vocês esta atrocidade vivida por mim.

Ontem, no ônibus, buscando relaxar e a caminho do lar, me acomodei na poltrona reclinável que minha condução caríssima (!) oferece. Apesar dos pesares, meus momentos diários no ônibus são os poucos nos quais consigo encontrar a paz.

Pois, então. Já dentro dele e tomado por um cochilo sublime, eis que acordo assustado com uma gargalhada enérgica de uma imbecil. A idiota relatava efusivamente, ao celular, que trocara de empresa e que, amanhã (hoje), seria seu último dia no velho trabalho. Ou seja, arruaça geral!

Só que ela não se conteve apenas em contar a novidade pra uma pessoa: ligou, no mínimo, pra cinco felizardos, incluindo namorado. Possuída por uma risada tosca e uma voz abominável, ela seguia, em pé, ao lado da minha poltrona, divulgando seu novo emprego, feliz da vida, protagonizando um escândalo irreparável. Neste momento, eu já desistira do cochilo ocasional. Ia tentar ler o jornal, até que a mula, em alto e bom tom, proferiu para alguém, ainda ao celular, que queria que todos, em sua despedida, fumassem charuto e bebessem caipirinhas. Imaginem o meu desespero ao ouvir tal idiotice.

Tentei, sem sucesso, me desligar. Não deu. Queria chorar, vomitar. Tragédias não acontecem apenas em favelas e rodovias. Há também atentado para os ouvidos. E os meus sentiram isso na pele ontem por esta terrorista.

Hoje, nova catástrofe, também no ônibus, só que indo para o trabalho. Menos mal que eu estava acordado, apreciando uma boa leitura. Já adaptado aos roncos de estranhos, tive ainda que tolerar uma nova imbecil, que discutia asperamente com a mãe, também ao celular – quem inventou isso, hein?

A tosca dizia absurdos em seqüência, com uma voz alterada, discordante dos argumentos da (pobre) mãe – que, assim como eu, deve lamentar a existência daquele farrapo. E parece que só eu estava incomodado, pois a maioria dos passageiros adormecia em sono profundo, o mesmo sono que eu desejara no dia anterior. Como não tenho a sorte deles, tive que ir até o Centro ouvindo a filha mimada aos berros, sem o mínimo de respeito a este que vos escreve.

Cenário calamitoso, amigos. Fui, involuntariamente, alvejado por insultos e escárnios. Um horror. Divido com vocês este momento de pesar. Obrigado pela hombridade.

5 comentários:

  1. Você está cada dia mais rabugento e dramaturgo. Assombroso! Mas... adorei esse texto. E gostei de ver esse blog voltando a ativa, estava sentindo falta dos seus "pósts"

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  2. Você está cada dia mais rabugento e dramaturgo. Assombroso! Mas... adorei esse texto. E gostei de ver esse blog voltando a ativa, estava sentindo falta dos seus "pósts"

    ps; Seu blog não anda nada receptivo a comentários.

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  3. Larissa, é claro que este texto é um exagero. Mas, na qualidade de escritor, às vezes é bom a gente dramatizar um pouco o relato, visando torná-lo cômico - foi exatamente a intenção que tive. Se você riu com este texto, meu objetivo foi alcançado.

    O blog não anda receptivo a comentários? Pode ser, talvez eu esteja mundando o estilo. Ou então é pela escassez de opiniões.

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  4. Obrigada pela aul de redação, pasquale. rs

    Eu disse que não anda receptivo porque eu tentei comentar 3 vezes até conseguir. Por sinal, acabaram saindo 2 comentários, depois apaga um deles.

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  5. Gostei do relato e digo que vc é apenas mais um que sofre com tamanho desrespeito...
    O Brasil seria bem melhor se existesse educação e respeito com o próximo!

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